15.12.10

Bem-vindos, novos arquitetos!

Arquiteto blogueiro sofre. Já não temos tempo para nossos projetos, imaginem para atualizar o blog...
Hoje foi um dia especial. Fui selecionado para o mestrado da UnB, marcando uma nova fase da minha vida profissional. Ao mesmo tempo, nove alunos meus apresentam seus trabalhos finais e tornam-se meus colegas. Desde que comecei a dar aulas estes são os primeiros alunos meus a se formarem. Hoje, 10 anos depois de me formar me pergunto se seus sonhos, medos e anseios são tão diferentes assim dos meus.


O que mudou na nossa profissão nos últimos 10 anos (fora a quantidade de arquitetos brotando por aí)? Resolvi fazer uma lista do que mais me preocupava em relação à minha profissão quando me formei, em 2000:

- Continuamos no sistema CONFEA/CREA. O CAU, Conselho de Arquitetura e Urbanismo ainda não saiu (nosso conselho regional se chamaria CRAU???).
- Vários colegas arquitetos e designers de interiores teimam em trabalhar esperando serem remunerados pelas RTs (reservas técnicas), jogando o valor do projeto lá no chão, quando se cobra por ele!
- O piso salarial do arquiteto não é cumprido por ninguém. E ninguém reclama, senão tá na rua...
- Há clientes que acham que o computador faz quase todo o trabalho. Na verdade o arquiteto seria um cadista de luxo, ou pior, o cara que assina a "pranta" do cadista.
- O que o arquiteto faz mesmo?
- "Arquiteto é muito caro!"
- "Tudo isso por um papelzinho?"
- "Faz aí um estudo. Se eu gostar eu pago".



Pouca coisa mudou. Pelo menos do lado de fora, porque aqui dentro do meu escritório, muitos erros e muita grana não cobrada ou não recebida depois, sinto-me mais seguro. Boa notícia aos meus novos colegas: Grande parte das dúvidas que surgirão a partir de agora serão respondidas por vocês mesmos. A má notícia é que pode demorar muito. Só depende de como vocês estão preparados para enfrentar nossos desafios profissionais.
Não bastasse as naturais diferenças de formação, talento e habilidade entre todos nós, nunca te disseram (e nem a mim) que temos que ser empresários, homens de negócios. Temos que dominar a arte da precificação. Entender quanto custa nosso trabalho, para aí sim, concluir quanto ele vale. Fluxo de caixa, impostos, taxas, emolumentos, colaboradores, funcionários, leis trabalhistas, códigos de edificações, leis e normas passarão a conviver, nem sempre em harmonia, com a defesa apaixonada do partido arquitetônico ou da linguagem modernista que aquela marquise curva de concreto aparente tão bem exprime. "Quanto custa isso?". Como assim? Nunca precisei pensar nisso na faculdade!
Será que nossas universidades formam profissionais completos? certamente que não, mas faz parte do jogo.
Meus queridos colegas, não desistam. Leiam, perguntem, aprendam. Busquem conhecimento em outras áreas, complementem sua formação. Sujem o sapato, subam em andaimes, perguntem ao pedreiro, ao mestre de obras, sejam humildes, sejam ambiciosos.
Essa profissão maluca é deliciosamente desafiadora. Desenhem. Desenhem muito. gastem folhas e folhas com seus devaneios formais e seus traços inúteis, porque só nós sabemos a "obra de arte" escondida por trás daqueles rabiscos. Sejam técnicos, artistas, empreendedores, malucos, sonhadores. Sejam arquitetos, com tudo de bom e de ruim que isso queira dizer. Bem-vindos!